No combate às fake news, um dos aspectos centrais é o estimulo à busca de informações em fontes confiáveis. Para isso, é essencial que as pessoas acompanhem os principais acontecimentos e assuntos de interesse não somente nas redes sociais e busquem notícias produzidas com critérios jornalísticos.
Mas como fazer isso diante de campanhas constantes contra o hábito de assistir e ler notícias, da crescente aversão ao hábito que acompanhar o noticiário e da demonização do jornalismo. Os ataques vem de vários lados. Explico.
Frequentemente surge um estudos dizendo que consumir notícias é um possível gatilho
de tristeza, depressão e estresse. Notícias ruins, ressaltam. Mas muitas vezes são os acontecimentos negativos que mobilizam para a ação, despertam a solidariedade e geram consciência sobre questões essenciais. Também chama a atenção para o fato de que esses estudos não diferenciam o consumo de informações pela mídia tradicional e pelas redes sociais, e nem falam da importância de as pessoas aprenderam a lidar com o que leem nos jornais ou recebem pela televisão.
Lado a lado com esses estudos, estão os gurus da auto-ajuda, blogueiros e influenciadores. É comum ouvir conselhos do tipo "fique longe das notícias", "ouvir notícias ruins atrai coisas ruins para sua vida" e assim por diante.
Por fim, mas não menos importante é a campanha de demonização do jornalismo empreendida por algumas lideranças religiosas. "Ao invés de você ler essas notícias que falam de morte e de quarentena,
da epidemia e pandemia, olhe para a palavra de Deus e tome sua fé na
palavra de Deus, porque essa, sim, faz você ficar imune a qualquer praga
e a qualquer vírus, inclusive o coronavírus", foi uma das pregações ouvidas recentemente, de um pastor com acesso à programas de TV.
O fato, porém, é que mesmo que as pessoas não procurem as notícias, elas chegam até as pessoas. Com uma diferença fundamental. A busca ativa de notícias se dá, pelo menos em parte, em fontes confiáveis da imprensa, enquanto a recepção passiva acontece primordialmente pelas redes sociais e ferramentas de mensagens, como o WhatsApp. Ou seja, está criado um terreno amplo e fértil para as fake news.
Na luta pela desinformação, é fundamental estimular as pessoas a voltarem a consumir notícias, desmistificar a atividade jornalística, mostrar que ser bem informado não deixa ninguém doente, educar as pessoas a acompanhar o noticiário e lidar com as informações (inclusive as crianças...sim, as crianças). Em vez de repetir que ver notícias faz mal, os influenciadores responsáveis deveriam alertar que ruim, mesmo, para cada um e para a sociedade, é ficar desinformado, vulnerável a mentiras e à manipulação de quem só tem a ganhar com a disseminação de fake news.