Nos últimos tempos, o debate em torno da Educação brasileira tem sido contaminado pela desinformação, por mitos de todas as espécies e por falsas polêmicas. Daí a importância de buscar, sempre, dados objetivos e fontes confiáveis nessa área.
Nesse sentido, o Anuário Brasileiro de Educação Básica é uma das mais referências de consulta para jornalistas, pesquisadores e gestores públicos. Em seu oitava edição, a publicação tem a vantagem adicional, este ano, de disponibilizar,na maior parte dos nossos gráficos e das tabelas, números de 2018.
Com certo atraso, já que o Anuário foi lançado no final de junho, fiz aqui um síntese de 10 destaques desta edição.
1) Educação Infantil
Se há uma boa notícia no cenário da Educação é a evolução da Educação Infantil, etapa essencial para a trajetória escolar das crianças.
Em meados da década de 1990, menos da metade das crianças de 4 a 5 anos frequentavam a escola. Em 2017, esse percentual chegou a 97%.
A maior atenção à primeira infância se reflete no Ideb dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o único que está dentro do esperado pela meta parcial de 2017.
2) Ensino Médio
Há cada vez mais jovens frequentando a escola. O Anuário aponta que o percentual de jovens de 15 a 17 anos que frequentam a escola segue aumentando, tendo alcançado a taxa de 91,5% em 2018.
No entanto, é muito importante observar a distância entre a taxa de atendimento, ou seja, o total de jovens na escola, e a taxa líquida de matrícula, o percentual de jovens cursando o ano/série correspondente à idade. Esta também vem crescendo, mas ainda está bem abaixo da meta do Plano Nacional de Educação (PNE).
3) Desigualdades
As desigualdades sociais, reproduzidas nas diversas dimensões do sistema educacional brasileiro, do acesso à qualidade do aprendizado, devem ser uma prioridade. Infelizmente, saíram totalmente do radar do atual governo e, em grande medida, da própria sociedade...o que é ainda pior.
Em 2018, 75,3% dos jovens brancos de 15 a 17 anos estavam matriculados na etapa. Já entre os jovens pretos da mesma faixa etária, esse percentual era de 63,6% - uma diferença de 11,7 pontos percentuais.
4) Distâncias regionais
As desigualdades também estão presentes nos resultados e nos resultados entre diferentes estados e municípios. Por exemplo: Enquanto um município localizado no Rio Grande do Sul destinava cerca de R$ 19,5 mil por aluno em 2015, havia outro município no Maranhão dispondo de apenas R$ 2,9 mil.
5) Professores
Como bem destaca o Todos pela Educação:
Um dos maiores desafios para avançar na qualidade da Educação é a falta de um conjunto de políticas docentes que atuem na formação, carreira e condições de trabalho dos professores. Em 2018, o rendimento médio dos docentes da Educação Básica com curso superior (R$ 3.823,00) correspondeu a 69,8% do que ganhavam, em média, outros trabalhadores com mesmo nível de escolaridade (R$ 5.477,05). Em 2012, essa proporção era de 60,8%.
Em relação à formação dos professores, desde 2012, não há aumento significativo no número de docentes com formação adequada para as disciplinas que lecionam. Isto significa que há aulas de matemática - por exemplo - sendo ministradas por docentes que não têm formação na área. As taxas permanecem preocupantes: em 2018, 48,7% dos docentes dos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) tinham formação adequada, um crescimento de 5,1 pontos percentuais em comparação a 2012. Já no Ensino Médio, essa taxa era de 56,3% - um aumento de 5,4 pontos percentuais nos últimos seis anos.ços
6) Educação Profissional Técnica e Ensino Integral
Dois temos dos quais muito tem se falado...mas o números mostram que os avanços são tímidos.
No Ensino Integral, por exemplo, aumentou a distância em relação meta à meta do PNE, invertendo as tendências verificadas em anos anteriores. Os dados de 2018 mostram queda de 35,4% das matrículas nos Anos Iniciais e de 30,8% nos Anos Finais do Ensino Fundamental, em relação a 2017.
7) Aprendizado
O direito à Educação de qualidade ainda está longe de ser assegurado e se configura no desafio mais urgente. Menos da metade dos alunos atingiram níveis de proficiência considerados adequados ao fim do 3º ano do Ensino Fundamental em Leitura e Matemática. Na Escrita, os níveis de proficiência também estão distantes do razoável: 33,8% dos alunos encontram-se em níveis insuficientes.
Quando os dados são discriminados por renda, o tamanho do desafio aumenta. Apenas 14,1% das crianças do grupo de Nível Socioeconômico (NSE) muito baixo possuem nível suficiente de alfabetização em Leitura. Esse patamar é alcançado por 83,5% das crianças do grupo de NSE muito alto. Assim, também, 29,8% das crianças da zona rural possuem nível suficiente de alfabetização em Leitura, enquanto isso ocorre com 47,7% das crianças que estudam na zona urbana.
8) Ideb
O Anuário também mostra que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) segue avançando nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com ritmo mais lento nos Anos Finais. No Ensino Médio, o cenário é de estagnação.
9) Educação Superior
A inserção na Educação Superior continua em elevação. Em 2018, a proporção de matrículas na etapa era de 44,2%, acréscimo de 3,9 pontos percentuais sobre 2017.
No que se refere à taxa líquida de matrículas, houve crescimento de 1,9 ponto percentual: 19,9%, em 2017, para 21,8%, em 2018.
10) Retrato do Brasil
Por fim, vale destacar alguns pontos do interessantíssimo infográfico Brasil, que faz parte do Anuário, e traz um retrato bem abrangente:
- A escolaridade média da população entre 18 e 29 anos está em 11,3 anos, mas é bem menor na área rural (9,6);
- O número de crianças e jovens fora da escola continua caindo, mas ainda é de quase 1,5 milhão;
- 80% dos professores da Educação Básica têm Ensino Superior completo;
- De cada 100 estudantes que ingressam na escola, apenas 64 concluem o Ensino Médio aos 19 anos.
Você pode fazer o download do Anuário neste link, do Todos Pela Educação.
Se tiver alguma dúvida ou quiser trocar ideias sobre os indicadores da Educação, fique à vontade para comentar este post ou mesmo me enviar email: fernandole06@gmail.com