segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Sempre atento aos sinais...





 Mais do que nunca, precisamos ficar atentos e refletir sobre o que queremos para o futuro. Para isso, é essencial ter em mente que toda e qualquer ação tem consequências. Depois de um passo ou de um gesto, por mais insignificante que pareça isoladamente, vem outro passou ou gesto e logo se forma uma caminho. Tendemos a minimizar a importância de passos e gestos, por incapacidade ou medo que tentar antever o está à frente. 

Conselho de jornalista: ao acompanhar as notícias, se pergunte: essa ação, essa frase, essa atitude...pode ter alguma significado maior? Que caminho ela indica? A repetição desse padrão pode desaguar em que tipo de cenário? E assim por diante...

Aos poucos, é possível juntar os pontos e desenhar uma figura maior.

Por exemplo: há quase um mês a jornalista Miriam Leitão publicou um importante artigo chamado "Entre o grotesco e o perigoso". Não é difícil relacionar os alertas que ela faz o que mais recentemente vem se observando no cenário do meio ambiente, para ficar em um exemplo.

Veja a íntegra do artigo:

"...

Pense no que o presidente Jair Bolsonaro fez e falou de grotesco em 200 dias. Você só conseguirá se lembrar de tudo se recorrer a uma pesquisa. São tantas esquisitices diárias que a gente se esquece porque precisa cuidar da vida.

O presidente investiu contra radar, cadeira de criança, taxa cobrada em Noronha. Defendeu o trabalho infantil, disse que, sim, beneficiará filho seu, postou notícia falsa, deu visibilidade a uma cena escatológica no carnaval e tratou com escárnio valores fundamentais. Qualquer lista que for feita aqui ficará incompleta. O problema é que junto com atos e palavras sem noção há perigo real contra pessoas e instituições.

Governar um país não é comandar um programa humorístico. As palavras bizarro e tosco têm sido usadas com frequência, mas talvez devamos pensar mais na palavra perigo. Enquanto renova o estoque da “última de Bolsonaro”, a Presidência contrata o desastre em inúmeras áreas.

Os ataques ao meio ambiente são diários, a educação perdeu um semestre, o Brasil se aproximou na ONU de países párias nos direitos da mulher, o governo naturalizou a intolerância, suspendeu a fabricação de remédios essenciais, escalou a liberação de agrotóxicos, estimulou o preconceito, encurralou a cultura e esteve nas ruas com quem pediu fechamento do Congresso e do Supremo.

Enquanto tudo isso acontecia, a economia continuou em crise, a queda da atividade se aprofundou, o desemprego permaneceu alto, a confiança caiu. Há relação entre uma coisa e outra. Até agora o que se tem é um governo sem rumo em todas as áreas, inclusive na economia. Alguns integrantes da equipe econômica se dedicam ao extremo a determinadas ações, mas o governo tem apresentado miragens como se fossem projetos em andamento.

A lista de não eventos está cheia. De concreto, houve dois avanços em seis meses. A aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara e o anúncio do acordo Mercosul-União Europeia. Na Previdência, o parlamento avançou a despeito da balbúrdia do governo. No acordo comercial há ainda uma longa estrada até virar realidade. Não se pode contar ainda como conquista consolidada. A falta de fatos concretos na administração Bolsonaro mantém nos agentes econômicos a desconfiança em relação à retomada do crescimento. Os investidores da economia real precisam de sinais mais sólidos.

Há perigos agudos. O ministro Ricardo Salles visitou madeireiros, foi aplaudido por eles e os elogiou no mesmo local onde duas semanas antes madeireiros haviam queimado um caminhão tanque do Ibama. Foi em Espigão D'Oeste, Rondônia. O combustível abasteceria três helicópteros que seriam usados para fiscalizar a retirada ilegal de madeira na Terra Indígena Zoró. Não houve a operação. Criminosos queimaram patrimônio público, retiraram madeira de terra protegida, ameaçaram um órgão do governo, abortaram uma ação de fiscalização. A extração ilegal de madeira é a principal suspeita. O ministro do Meio Ambiente deveria ter sido mais cauteloso ao ir ao local se solidarizar com os madeireiros.

A lista dos perigos é tão extensa quanto a das tosquices. É importante ficar atento. O governo Bolsonaro tem um padrão. Ele vai encurralando e desmoralizando os órgãos públicos. O que há de comum entre defensoria pública, Ibama, ICMbio, Itamaraty, Inpe, IBGE, Inep, Fiocruz, tantos outros, é que o governo tem tentado impedir que eles façam o seu trabalho.

De forma sutil ou ostensiva funcionários são neutralizados. Os contribuintes pagam os salários dos servidores para que eles exerçam funções específicas, e o governo tenta paralisar as atividades. É desperdício de um recurso público valioso e caro: o capital humano. Isso enfraquece o Estado nas funções que precisam ser fortalecidas.

Há áreas mais vulneráveis porque viraram os primeiros alvos, mas outros órgãos estão na mira. Para legitimar seus atos, o governo dirá que a reação de funcionários é corporativismo, quando é a saudável defesa da sua missão dentro do Estado. Depois de 200 dias não há mais como se enganar. O governo não é apenas incompetente. Ele está criando perigos reais para o país.

..."





quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A ERA DO ACHISMO

O que palavras como iluminismo, liberalismo e ciclismo têm comum? 

O sufixo "ismo", que, no entanto, em cada um desses casos, e em muitos outros, tem um significado diferente. Um linha filosófica, um pensamento econômico, uma prática esportiva, por exemplo. 


De qualquer forma, o "ismo" sempre remete para algo coletivo, praticado ou compartilhado por um número significativo de pessoas. 


Agora o "achismo" pode ser incluído nessa categoria. Tornou-se, enfim, um "ismo" de respeito. 


O que antes era algo condenável, uma falha de argumentação, virou um recurso natural e aceitável. Um modelo em torno do qual muitos se aglutinam, com base em uma versão muito própria do que seria a liberdade de expressão.


Alguns até batizaram de pós-verdade, mas é o velho e bom achismo, potencializado pela força e pelo alcance das redes sociais. É a base da análise daqueles cuja capacidade de reflexão vai apenas até onde a vista alcance. Para o achista (praticante convicto e constante do achismo), vale a percepção individual, a experiência cotidiana, o entendimento já construído...trata-se de uma versão tosca do empirismo. A ciência, por exemplo, serve apenas para atrapalhar (um pouco) certezas solidamente erguidas. 


Elevado à condição de modelo de pensamento legítimo e socialmente aceito, o achismo inverte o ônus da prova. Cabe aos adeptos do conhecimento científico, por exemplo, demostrar os fatos e tentar convencer as pessoas de que são verdadeiros. O achista  expressa livremente sua opinião, sempre com jeitão de verdade absoluta. Se a opinião vai contra números e dados disponíveis, problema dos números e dos dados.


Mais do que isso: para o achista, e para aqueles que o seguem, falta aos estudos especializados uma qualidade essencial: não são autênticos e genuínos como a opinião que, nascida da ignorância, preserva sua pureza. Daí ser natural acusar os especialistas de sempre defenderem algum interesse escuso, seja ele partidário, ideológico ou classista.


Outra consequência da legitimação do achismo é a relativização do conhecimento que resulta do estudo e da pesquisa, assim como daqueles que detém e são referência desse conhecimento. No discurso dos achistas, os especialistas se tornam os "ditos especialistas".

Notem que o achismo avança também porque conta, em certa medida, com a conivência de muita gente. Onde deveria se apontar desinformação, mentiras e até fake news, o que se vê é um tanto de condescendência...aceita-se o achismo como base de argumentação quando declarações sem nenhuma base em dados são qualificadas apenas como polêmicas ou controvérsias. 

É preciso dizer com todas as letras que o achismo ameaça uma sociedade que deseje ter a educação, o conhecimento e a ciência com a base de seu crescimento e da busca de uma modelo mais justo de desenvolvimento. É preciso ter a coragem do menino da história da Roupa Nova do Imperador para dizer, em alto e bom som, que o Rei Está Nu.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

É preciso discutir as desigualdades na Educação



Não teve a atenção merecida uma iniciativa das mais importantes da área da Educação recentemente: o lançamento do IDeA - Indicador de Desigualdades e Aprendizagens (www.portalidea.org.br).

O IDeA oferece, para todos os municípios brasileiros, um retrato do nível de aprendizagem dos estudantes da Educação Básica e, ao mesmo tempo, das desigualdades entre os diferentes grupos sociais, seja do ponto de vista de raça, gênero ou nível socioeconômico.

Desde meados da década de 1990, a Educação brasileira apresentou avanços importantes. Mas, se no âmbito geral, a evolução registrada ainda é insuficiente, no que diz respeito às desigualdades, a situações segue urgente.

O professor Francisco Soares, ex-presidente do Inep e um dos maiores especialistas do país em avaliação educacional, está à frente da equipe que desenvolveu o indicador. Sobre a importância do tema, ele é categórico:

“É preciso colocar a ideia de desigualdade no centro do debate educacional porque não interessa, em um país como o nosso, termos poucos que sabem muito e muitos que sabem pouco”. Ou, em outras palavras, "qualidade para poucos, não é qualidade".

Entre no site...(www.portalidea.org.br)..conheça mais....veja qual o quadro educacional de sua cidade, de seu estado, de sua região...