terça-feira, 27 de fevereiro de 2024


 

Papéis jornalísticos: hoje e sempre

Muito frequentemente, aqui mesmo no LinkedIn, reaparece com força o debate sobre os impactos da aceleração tecnológica para a produção de conteúdo e, mais especificamente, para o jornalismo e as atividades jornalísticas. Esse tema também surgiu de maneira relevante numa palestra recente para a rede de colaboradores da Politize! (Politize!: visão geral | LinkedIn).

É bastante evidente que a tecnologia mudou quase tudo quando o assunto é produção e distribuição de notícias, artigos opinativos, crônicas do cotidiano e tudo o mais que sempre fez parte do campo de atuação dos jornalistas. Quase, não tudo. Permanecem atributos relevantes representados por estes profissionais (que, fique claro, podem ter formações diversas).

A capacidade de mediação é o primeiro deles, algo essencial para ajudar as pessoas a construírem conhecimento em meio à avalanche de informações com que têm de lidar no dia a dia. Mediar inclui priorizar, explicar, explorar diferentes dimensões, contemplar perspectivas muitas vezes opostas, e assim por diante. O ponto de partida é, obrigatoriamente, do foco primordial em quem vai se apropriar do conteúdo (note que não usei consumir).

Tal abordagem se materializa no vínculo permanente com o interesse das pessoas (ou leitores, em qualquer plataforma) e no direito que têm à informação precisa e de qualidade. E nos leva ao segundo atributo fundamental: o comportamento ético. A responsabilidade tanto pelos conteúdos como pela forma como são publicados (ou postados, divulgados, transmitidos) é um imperativo num cenário se caracteriza crescentemente pelo vale tudo.

Tá aí uma combinação potente, que contribui para evolução da sociedade e faz do jornalismo (e dos jornalistas) uma atividade imprescindível, hoje e sempre. E não se engane: estes atributos não são comuns a qualquer um que produz e publica conteúdo. Também não se deve ter uma visão simplista da questão ética: ela vai muito além de não disseminar fake news ou não fazer propagando com cara de prestação de serviço. Envolve dilemas significativos e, acima de tudo, na transparência dos compromissos que guiam o trabalho.

Todo mundo gera informação, todo mundo publica informação, todo mundo consome informação....e muita gente fica doente com informação de má qualidade ou estragada. Jornalistas sérios tem as ferramentas adequadas para reverter esta equação que ameaça valores centrais das sociedades democráticas.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024


 − Por que foi que cegamos?

− Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão.
− Queres que te diga o que penso?
− Diz
− Penso que não cegamos, penso que estamos cegos.
Cegos que veem. Cegos que, vendo, não veem.

Diálogo final de "Ensaio Sobre a Cegueira", José Saramago.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024


 Imagine alguém dirigindo e olhando apenas para o retrovisor; um desastre anunciado, certo? Não demora muito tempo para trombar com algo que apareça pela frente.

É assim com o pensamento passadista, que valoriza apenas e tão somente o que já ficou para trás, ignorando ou rejeitando as mudanças do presente. Não se trata de um comportamento conservador ou de simples saudosismo.

A abordagem passadista busca o tempo todo comparar o momento atual, geralmente destacando os aspectos negativos, com um passado muitas vezes idealizado, quase perfeito.

Além de disseminar com frequência uma visão distorcida dos fatos, alguém com esse tipo de pensamento tende a enfrentar uma série de desafios na vida pessoal e profissional. A começar pela dificuldade em compreender e se adaptar a contextos crescentemente complexos e dinâmicos. E, acima de tudo, por não conseguir fazer a síntese entre valores e comportamentos do passado com as inovações que surgem cotidianamente.

Voltando a imagem do motorista, dirigir olhando apenas para frente também é uma imprudência. Conhecer a história, valorizar conquistas alcançadas, preservar metodologias eficazes...tudo isso é a base sobre a qual se pode construir um futuro sustentável. Mas sem ignorar novidades que podem apontar para avanços ainda mais significativos e ajudar a evitar a repetição de erros.

Um olhar amplo, levando em conta vários aspectos do ambiente, faz não apenas bons motoristas, mas pessoas e profissionais mais bem preparados.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024


 Aqui é só uma ideia...tipo de coisa essencial para manter a sanidade mental, na vida profissional ou na vida pessoal


 Cada vez mais, as pessoas parecem ter dificuldade em distinguir a observação e a análise objetivas das percepções subjetivas (que também têm seu valor). Isso dificulta o diálogo mais frutífero, em que subjetividades podem se encontrar e se misturar abrindo possibilidades e sínteses até ali desconhecidas.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

 

Sabe aquela história de levar trabalho para casa? 


Muito pior é levar para as questões familiares, para as relações pessoais e para a vida em sociedade padrões de qualidade, eficiência e produtividade que servem apenas ao mundo empresarial. 


Para lidar com a complexidade da esfera pessoal, repleta de emoções e imprevisibilidades, procure subsídios na psicologia, na psicanálise, na filosofia, na ficção, na história e na escuta atenta de tudo o que dizem e contam as pessoas ao seu redor.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

RETOMANDO DE ALGUM LUGAR NO TEMPO E NO ESPAÇO

 O texto publicado hoje aqui, sobre a importância de vivenciar os paradoxos ao nosso redor, em vez de tentar ignorá-los, representa a retomada das atividades deste blog. De onde parou? Não! 2020 era uma outra realidade. Talvez de antes...das colunas do Destak, mas, é claro, sem ignorar acontecimentos e reflexões dos anos recentes. E, mais importante, sempre em movimento...

VIVER OS PARADOXOS


 
Para onde olhamos, encontramos um número crescente de pessoas em busca de certezas, respostas exatas, caminhos únicos, receitas prontas e objetivos bem definidos. Essa procura, no entanto, além de extremamente angustiante costuma trazes mais frustrações do que alegrias.

A realidade da maioria de nós é bem mais complexa e repleta de variáveis do que gostaríamos. O que predomina são as dúvidas, as múltiplas possibilidades e as ambiguidades. Isso vale para os diversos papéis que desempenhamos, na vida pessoal e profissional.

O jeito, então, é vivenciar os paradoxos que a vida nos apresenta, se equilibrando entre ideias aparentemente contraditórias e tentando chegar a alguma forma de equilíbrio no espaço de decisão e atuação que há entre os extremos.

Um exemplo é a fixação de padrões absolutos de perfeição sem a consciência de que são, por natureza, inatingíveis. Também não vale simplesmente desistir e, desde o início, aceitar um resultado insatisfatório. A alternativa é experimentar de forma positiva o esforço de fazer o melhor sabendo de antemão que o desfecho ficará abaixo do ideal imaginado.

Em outro campo, é comum ouvir as pessoas se afastarem de situações diferentes daquelas com as quais estão acostumadas dizendo respeitar seus limites, ignorando o risco de criarem uma fortaleza própria, em que podem acabar isoladas. A consciência sobre este paradoxo ajuda a achar um meio termo adequado a cada um.

Bastante comum também é a noção de que o planejamento existe para evitar a improvisação, a decisão de última hora, as escolhas imprevistas. Na verdade, em alguns casos, planejar é o primeiro e fundamental passo para poder improvisar. O planejamento bem feito dá norte para mudanças de rota que possibilitam à adequação às novidades que surgem cotidianamente.

E voltando a afirmação inicial deste texto: as dúvidas são essenciais para se de construir certezas robustas. Questionar as certezas, mesmo aquelas que parecem mais sedimentadas, é a abordagem efetiva para a formulação de convicções que sirvam de faróis, não de amarras.